Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 1 de março de 2012

por este rio


Verticalidade

Quando à beira do mar as almas se destroem
e os barcos se exercitam nas glórias vãs
é bom saber que um homem está de pé
na ponta do rochedo
e tem espelhada na fronte
a imensidão do mar.
É bom saber que os olhos
se espraiam na distância
e constroem na bruma 
o horizonte.
 João Rui de Sousa

domingo, 13 de novembro de 2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

arte xávega


«Espelhos

O mar que em mim se espelha
e em mim se degrada
somente se assemelha
à boca derrotada

pelos usos inúteis
do amor e da fala
ele reflecte fúteis
as imagens que exala

é o mar que me espelha
o líquido onde nada
à vida se assemelha
como uma fútil fala»

Gastão Cruz

sábado, 8 de outubro de 2011

premonição


"Bucólica"
«Como o peso do pássaro no ramo
sinto a memória na alma.
assim sou leve, apenas pelo que amo;
chega o tempo da palma.

Mas não prendo, nos voos que tenteio,
os fios já pousados
que estendiam a Graça como um veio
Aos pássaros tornados.

Um toque de inocência
custa o que não se tem.
Perdi a paciência,
ou ganhei, não sei bem.

Talvez apenas reste o dom dorido
de chorar sem vontade...
O que estou é perdido,
com a força da idade.
(...)
Vitorino Nemésio

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

do lado de fora do tejo


"Caiu o pano da palavra.
A solidão do mundo
já não tem outro cenário além da morte:
a morte representa-se entre as mãos.
O mais solto silêncio
escondeu-se atrás do imóvel pano cinza
que também foi matéria da janela,
torrão de coração posto no ar.

Caiu o pano que antes só subia.
É final do acto.
Agora há que sair.
Mas haverá fora?"

Roberto Juarroz




quarta-feira, 20 de abril de 2011

a aranha


A aranha dança tecendo os dias, tecendo a roupa de tapar o corpo
e bebe em si as gotas que o trabalho clama em suor.
A aranha dança no ar suspensa em imaginários fios
que despontam dos seus olhos de afagar lugares,
e mesmo que a saudade seja muita
aguarda pacientemente que até si venham os que ama.

terça-feira, 8 de março de 2011

Madrid - ARCO 2011



ROSAS MUSTIAS DE CADA DÍA
Todas la rosas blancas de la luna caían,
por la ventana abierta, en el cuerpo desnudo ...
Mirando aquellas carnes blandas que florecían,
hundido entre mis sueños, yo estaba absorto y mudo.

¡Oh su sexo con luna! ¡Esencia indefinible
de su sexo con luna! Hervían los blancores
de la carne, y el rostro, perdido en lo invisible
de la penumbra, lánguido, cerraba sus colores.

Era el enervamiento del dolor ... Y cual una
rosa de treinta años, opulenta y desierta,
el cuerpo blanco se elevaba hacia la luna
frío, espectral, azul, como una pompa muerta ... 

Juan Ramón Jiménez